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Machismo é um dos principais motivos para os cancelamentos na internet

Foto do escritor: Redação 2IARedação 2IA

Atualizado: 24 de jun. de 2020


Foto: Sílvio Santos, 2015


Um tuíte dizendo que a atriz Luana Piovani precisaria de um homem para lhe fazer companhia, somado a uma expressão homofóbica, de que ela não encontraria, pois muitos estariam ‘’virando maricas’’, foi o suficiente para que o jornalista Britto Júnior, ex-apresentador da TV Record, fosse cancelado pela internet em julho de 2019. Esse movimento de cancelar artistas e pessoas públicas por posicionamentos como o de Britto Jr. tem crescido no ambiente virtual e o comportamento machista é um dos que mais alimenta essa cultura de cancelamento. A tolerância para falas e atitudes preconceituosas e desrespeitosas é muito baixa nas redes sociais e os que as propagam têm grandes chances de serem ‘’cancelados’’.


- Em certas situações, a pessoa realmente merece uma segunda chance porque agiu por impulso e, por conta da exposição, acaba não conseguindo. Mas, ao mesmo tempo, é incrível o poder que o cancelamento tem de colocar determinadas pessoas em seu verdadeiro lugar. Situações que envolvem qualquer tipo de violência merecem ser julgadas de forma mais incisiva, como é em um cancelamento - explica a empresária e blogueira de moda carioca Juliana Lattuca, 25. Juju, apelido pelo qual é conhecida nas redes, tem mais de 20 mil seguidores no Instagram e entende o risco em trabalhar com a internet.


Juju disse que, no ambiente virtual, tudo depende da maneira que o projeto ou ideia é exposto, pois basta um erro para ser linchado virtualmente.


A estudante Maria Clara Esteves, 17, é usuária fiel do Twitter e do Instagram, redes onde a cultura do cancelamento é mais forte, e disse que já ajudou a ‘’cancelar’’ várias pessoas na internet. Segundo ela, coisas como machismo e falta de responsabilidade social, não devem ser perdoadas.

- Os blogueiros e blogueiras que trabalham com as redes sociais têm que entender que muita gente segue o que eles dizem e fazem, então essas falas preconceituosas e machistas não podem ser ditas porque podem acabar influenciando alguém. Acho que, nesses casos, o cancelamento é mais do que merecido - diz Maria Clara.


Na internet as coisas acontecem de forma rápida e abrupta, e a cultura do cancelamento cumpre estes requisitos. O cancelamento ocorre quando um certo grupo de apoiadores ou fãs identificam algum tipo de erro ou incoerência no posicionamento, fala ou atitude de alguém específico, geralmente uma pessoa pública. Dentro dessa cultura, o comportamento machista não passa batido. Muitos artistas, atores, escritores, cantores e vários outros tipos de celebridade ou subcelebridade já foram cancelados na internet por atitudes ou falas machistas.


O apresentador de TV Silvio Santos já teve inúmeras falas e atitudes machistas durante a sua vida como apresentador, mas comportamentos que antes não incomodavam, passavam despercebido ou não eram levados em consideração porque Silvio é de outra geração, hoje incomoda muito os internautas. O cancelamento mais recente de Silvio Santos foi após os comentários dele sobre o corpo de meninas de menos de 10 anos de idade, que participavam de um concurso de beleza no programa em que ele apresenta.


Na música também há diversos casos. Antes de se falar em cultura do cancelamento, em 2009, Chris Brown já havia sido cancelado. Após fotos e relatos de violência doméstica do cantor com a cantora Rihanna, sua namorada da época, o rapper foi muito criticado, perdeu contratos de campanhas publicitárias, teve sua apresentação no Grammy cancelada e perdeu credibilidade na indústria. Rihanna chegou a ser hospitalizada devidos aos ferimentos deixados por Brown, que confessou e deu detalhes sobre o crime.


O cantor de funk Biel também foi cancelado pela internet depois de assediar uma jornalista em 2016 e, novamente, em 2018, depois de sua ex-mulher, Duda Castro, postar um vídeo relatando casos graves de agressão e abuso psicológico feitos por ele.


O ambiente virtual se apresenta como uma extensão da realidade, o que faz com que muitas das questões sociais sejam levadas para lá e, em algumas situações, são até agravadas devido ao anonimato possibilitado pela internet. Esse é o caso da violência contra a mulher. De acordo com os dados do Núcleo de Estudos da Violência da USP e do Fórum de Segurança Pública, uma mulher morre a cada duas horas no Brasil vítima de violência de gênero. No ambiente virtual, muitas mulheres sofrem com crimes como exposição de fotos e vídeos íntimos, difamação, calúnia e linchamento.

Luana Génot, 31, escritora e fundadora do Instituto Identidades do Brasil, acredita que os cancelamentos seriam mais efetivos se contextualizassem suas questões e as entendessem como parte da sociedade, abrindo espaço para reflexão e, eventualmente, uma mudança estrutural.


- A violência de gênero é grande na internet porque sempre existiu e foi grande no mundo real também. O ideal seria sempre abrir para discussão e contextualizar o cancelamento para que todo mundo pudesse entender o quanto certa fala ou atitude foi problemática e deve ser mudada. É interessante quando a gente consegue refletir sobre essas questões para que haja mudanças reais, estruturais, e não só de apontar um erro único e cancelar alguém específico. O cancelamento parte de um apontamento de dedo unitário, enquanto o problema real é estrutural, faz parte do sistema em que a gente vive - explica Luana.


As campanhas feitas na internet para denunciar casos de machismo têm tido muita força há alguns anos e representam o grande engajamento gerado pelo feminismo no ambiente virtual. A campanha #primeiroassédio, criada por Juliana Faria, do site Think Olga, incentivou milhares de mulheres a compartilharem histórias sobre a primeira situação de assédio que elas lembrassem de ter passado na vida. A hashtag #MeuAmigoSecreto, também em 2015, gerou muitas denúncias e relatos de mulheres sobre situações de assédio e abuso que aconteceram no dia a dia, a maioria com pessoas que eram conhecidas pela vítima.


A campanha #MeToo, pioneira, teve origem em 2006, com a ativista Tarana Burke, que teve a iniciativa de reunir vítimas de violência sexual, mas só viralizou no mundo depois de um tweet da atriz Alyssa Milano, em 2017, pedindo para que as pessoas utilizassem essa hashtag para relatar casos de abuso sexual. A tag viralizou primeiro no universo de Hollywood, acumulando sérias acusações sobre grandes nomes do cinema, como Harvey Weinstein, um dos maiores produtores da história, e se espalhou no mundo todo. Todos os relatos gerados pela #MeToo encorajaram outras campanhas contra assédios e estupros e geraram grande movimento. Um levantamento feito pelo The New York Times mostrou que mais de 200 homens perderam seus cargos devido a acusações públicas feitas pelo

Por Gyovanna Altino


Foto: Marcha das Vadias, Porto Alegre, 2013.


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