Post escrito por Fernanda, em sua página no Instagram, sobre a "festinha" de Gabriela Pugliese no Isolamento Foto: Reprodução
A publicitária Fernanda Viana, de 30 anos, dona de um dos maiores perfis de fofoca do Instagram, o Keeping Up Project, acredita que o cancelamento tem impacto social, porque acaba sendo aceito ou discutido na sociedade, por meio das mídias digitais, e tomando uma grande proporção. Ela enxerga que
essa nova cultura está muito ligada ao mundo atual, que define como “a era da opinião”, onde todos querem expor o seu ponto de vista.
Recentemente, a publicitária cobriu o cancelamento de Gabriela Pugliesi. Isso porque, a blogueira fitness, mesmo durante um período de isolamento social, deu uma festa em sua casa, em São Paulo, para comemorar a volta de sua amiga Mari Gonzalez, que estava confinada, até então, no reality show da Rede Globo Big Brother Brasil.
No post, Fernanda mostrou total indignação com a atitude das influencers. “Ontem a @gabrielapugliesi deu uma festinha de boas vindas pra @marigonzalez. Regada a hambúrguer e bebida, balões escrito Mari, com a presença de alguns amigos, como a @marisaad. Em plena quarentena em meio a pandemia de Coronavírus (do qual Gabriela foi infectada) e recomendação de isolamento social. A festa durou até as 7 da manhã.”, escreveu ela.
O grande diferencial da atualidade é a internet e como ela reconfigura tudo o que é compreendido como comunicação. Os veículos de notícias são as vias de informação e estímulo para os principais debates travados pela sociedade, e entre eles está o cancelamento de muitos artistas conhecidos. Assim, os perfis de fofoca do Instagram estão diretamente ligados a essa nova cultura.
Com mais de 100 mil seguidores na rede social, Fernanda produz conteúdos sobre comportamento, cultura, curiosidade e cotidiano da vida dos famosos ou sub-famosos. A partir disso, foi feita uma análise do perfil da formadora de opinião e de mais outras três páginas do mesmo segmento com o objetivo de explorar de que forma esses novos modelos comunicativos abordam a cultura do cancelamento, e qual a importância das mídias digitais na cobertura do jornalismo de celebridade.
Página inicial @KeepingUpProject Foto: Reprodução
O que leva as pessoas a formarem frases, textões, comentários intolerantes, e muitas vezes um linchamento virtual, para opinar sobre um cancelamento? Fernanda acredita que essa cultura surgiu para impor o que era aceitável e o que era inaceitável na militância.
- Se você tem um comportamento ou uma fala não condizente com o certo, ou se você defende o errado, o cancelamento é para isso. Impor o que é certo para sociedade ou como devemos seguir.”, disse Fernanda Viana.
Ainda sobre a comemoração promovida por Pugliesi, a formadora de opinião escreveu em sua página. “Gabriela pediu desculpas pelo erro, assim como Mari, a Saad. Porque a Gonzalez não se pronunciou. Já outras amigas de Pugli se passaram e falaram um monte de abobrinha pra justificar o injustificável. Dos danos colaterais dessa social que não deveria ter acontecido, marcas cancelaram parceria com a influencer fitness. E pra completar ainda teve uma vizinha do casal Erasmo e Pugli fazendo uma mini exposed sobre como é ser vizinha deles... Xiiii…”
Muito sincera em todas as suas publicações, Fernanda deixa clara a sua posição e opinião sobre qualquer tipo de assunto. Ela mistura um humor ácido, um pouco de sarcasmo e o que aprendeu com a comunicação em textos que geram milhares de comentários e curtidas em poucos minutos.
A publicitária Fernanda Viana: "O cancelamento é sim uma questão seletiva na internet e desnecessária."
Além disso, a publicitária usa muitos ganchos para abordar uma notícia que já foi publicada, ao escrever uma nova. Como no cancelamento de Gabriela, a blogueira perdeu milhões em contratos publicitários por conta da festinha em tempos epidêmicos. Para fazer um post falando sobre a também influencer Mari Gonzalez, que foi o motivo da comemoração na casa de Pugliesi, Fernanda escreveu um trecho em sua página para lembrar o ocorrido. “Depois do reality ela pisou feio na bola ao desrespeitar o isolamento social naquela fatídica festinha que deu ruim pra carreira da amiga, fez a egípcia e não se pronunciou. Nem pra defender a amiga. Mas enfim, isso já passou!”.
As contas de fofoca no Instagram têm um papel muito importante neste cenário do cancelamento, pois possuem milhares de seguidores muito engajados com a pauta. Toda vez que algum dos perfis noticiam que um famoso foi cancelado, as opiniões se dividem nos comentários da publicação.
Em meados do mês de maio, o perfil Subcelebrities soltou uma notícia sobre o cancelamento de Mari Saad, blogueira do ramo de maquiagem que foi duramente criticada por também furar a quarentena na festa de Gabriela Pugliesi. Na publicação, o perfil mostrou a empresária Thayse Teixeira defendendo Mari, como mostra o texto tirado direto do Instagram. “A @thayseteixeiraof comentou em nosso post sobre o cancelamento da @marisaad por um erro, e que quem acompanha ela, sabe do comprometimento e seriedade que leva seu trabalho e conteúdo.”
Isso porque as pessoas começaram a cobrar, diretamente para as marcas, quebra de contrato permanente com a influencer. Essa publicação teve em torno de 4 mil comentários, com muitos seguidores se mostrando a favor do cancelamento, e outros contra. Entretanto, todas as opiniões eram bem intolerantes com a atitude da blogueira, mesmo as que se mostravam a favor, como a dessa seguidora na qual vamos preservar a identidade.
- Não concordo com o cancelamento, todo mundo erra porque somos humanos. Mas cá entre nós: ela [Mari Saad] não sabia que influenciava milhares de pessoas? Não sabia que milhares de pessoas Brasil afora estão morrendo, que é por isso que estamos em isolamento social, e não é o momento de se reunir com as amigas? Erramos o tempo todo, mas quando se erra consciente do que está fazendo, fica difícil para os juízes da internet perdoarem. Esse é o preço que se paga por ser famosa, disse a internauta na publicação.
Já uma outra seguidora, que também não vamos identificar, se mostrou indignada e a favor do cancelamento da influencer. Segundo ela, enquanto as blogueiras estavam no conforto de suas casas fazendo festa, tinham milhares de pessoas morrendo por conta da Covid-19 no Brasil e no mundo. Além disso, ainda lembrou das perdas de contratos publicitários de Mari Saad, e disse que não compra mais produtos da marca de cosméticos da blogueira.
- É revoltante que enquanto nós tentamos fazer nosso papel, ficando em casa, essas mulheres que têm influência sobre várias pessoas, principalmente adolescentes, ficam dando festinhas para comemorar. Estão comemorando o que? As mortes, o desemprego, a tristeza do povo? Tem que ficar cancelada mesmo, e espero que perca mais dinheiro e contratos publicitários. Eu não gasto mais um centavo nas maquiagens dela, não vou bancar a irresponsabilidade de ninguém, disse a outra seguidora.
Agora, diferente da página de Fernanda, o perfil de fofoca Subcelebrities, com 1,9 milhões de seguidoras, e Gossip do Dia, com 1,8 milhões de seguidores, abordam notícias sobre cancelamentos dos famosos de forma superficial, sem muitas opiniões, e muitas vezes não se aprofundam na pauta ou fazem somente um repost de algum canal de notícias de jornalismo de celebridade. Geralmente, a fonte é a colunista Fábia Oliveira, do jornal O Dia. Vale ressaltar que os administradores sempre dão os créditos de onde tiram as matérias.
Segundo Fernanda, esse estilo tem muito a ver com a falta de entendimento do que é comunicação para esses perfis. Essas contas noticiam fatos, possuem um grande público fiel e, hoje, também agregam como novos canais digitais, mas ser fazer um trabalho jornalístico.
- Como grande maioria não são jornalistas, eles não têm muito essa ideia [de imparcialidade]. Eles [páginas de fofoca] não tomam essa responsabilidade, porque não tem essa visão de mundo [jornalístico], de profissão, nem de área de trabalho. Então não veem como importante exercer a ética ou a reflexão do que fazem, porque fazem, e como fazem.”, disse Fernanda Viana.
O perfil Treta da Blogueiras 2, com 542 mil seguidores, já aborda a pauta do cancelamento de um jeito mais interessante. Apesar de citar fontes nas entrelinhas, é possível perceber a opinião das moderadoras da página. Um exemplo disso é o trecho a seguir, na qual elas falam sobre a polêmica em que a blogueira Mari Saad se envolveu durante o período de isolamento social, e uma das consequências que gerou o seu cancelamento. “Chocada com a [Rede] Globo desmentindo a @marisaad. Segundo o @noticiasdatvoficial a Globo disse que Mari nunca foi contratada da emissora, só fazia participações no programa “É de Casa”. E depois de toda polêmica a moça foi cortada definitivamente de dar as caras por lá.”
A publicitária não acredita muito na efetividade do cancelamento e define como uma tendência desnecessária e descabida. De acordo com Fernanda, as pessoas devem sim chamar atenção para atitudes erradas, porém ela acha que cancelar não é a melhor opção.
- Estamos no mundo para evoluir e melhorar, e a partir do momento que se cancela alguém, não damos essa oportunidade. Então acho que é muito mais que cancelar, tem que existir um debate, ter um exemplo do que fazer e como aprender. Por isso, sou contra essa ideia.”, disse Fernanda Viana.
Por fim, a publicitária diz acreditar no cancelamento temporário que é a medida de parar de seguir alguém que fez de algo de errado, para que esse famoso possa entender o próprio comportamento, pensar, voltar, admitir que realmente errou, e se propor a melhorar. Essa ação foi adotada por muitas pessoas no caso de Mari Saad - que perdeu milhares de seguidores e teve uma queda de venda na sua linha de cosméticos. Fernanda analisa que esse tipo de punição é eficaz.
- Futuramente, quando ver que a pessoa mudou, volte a seguir e acompanhar o conteúdo. Porque tem que ter alguma providência, não dá pra continuar errando, e o povo passando pano, finalizou a publicitária.
Por: Luana Bianchi
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